6 de dezembro de 2010

África em suas mãos

da janela vejo passar D. Américo 
senhor das terras de Bolungarvík. 
de chuva na mão resguardo meus pecados 
numa pequena caixa de barro juntamente com 
o meu comodismo. das raras vezes que o vi, 
escondi-me atrás do avental sujo que empregava 
na altura. seu rosto oval e branco 
assombrava o meu coração e alma partilhada que 
jamais deixaria esconder qualquer pensamento 
que me passasse pela cabeça pois éramos um só. 
uma partícula num todo.
lembro-me que me doíam as costas do chicote 
que meu amo me oferecia, para ele de bom grado, 
quando nas tardes de gelo só se aqueciam a almas podres 
com peles frias por aquelas bandas. cada chicotada era um traço do meu plano. 
meu D. Américo, meu pálido Américo que na Islândia não te vejo eu. 
fugiu para África. sozinho, a pedido meu. a pedido de ambos.
pois o insuportável algum dia viria ao de cima. 
e sim, foi o adeus embora de mãos dadas e cravadas na nossa árvore eterna.

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