inicialmente a procura é cega, os olhos estão vendados,
a boca sequiosa
sobre uns sentidos desordenados, céleres ao mesmo tempo.
procuramos sem saber o quê,
impulsionados pelo corpo que se ergue
começando a desejar sem palavras
apenas crescendo para o mundo,
exigindo da terra uma metade
que o complete.
inicialmente a procura é cega, dizia,
e se por acaso tropeçamos num corpo,
amamos nesse corpo
o sonho utópico da infância,
o que o nosso coração
espera da própria vida.
ao despertarmos do idílio
aprenderemos, amargamente, que é só
o inalcançável que, na verdade, importa.
***
se afirmo a minha humanidade
que o mesmo será dizer água,
pois o dedo que levanto com estas palavras
não é mais do que isso
e os pés em que me apoio
a boca que pronuncia sentido
e exclamações: como é belo o mundo!,
não são mais do que água;
mas se afirmo a minha humanidade, repito,
aprumo o tronco, finco os pés à terra, cerro os punhos com coragem na perplexidade de ser um homem.
Rui TInoco
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