14 de outubro de 2010

a procura é cega


















inicialmente a procura é cega, os olhos estão vendados,
a boca sequiosa 
sobre uns sentidos desordenados, céleres ao mesmo tempo.
procuramos sem saber o quê,
impulsionados pelo corpo que se ergue 
começando a desejar sem palavras 
apenas crescendo para o mundo, 
exigindo da terra uma metade 
que o complete.

inicialmente a procura é cega, dizia,
e se por acaso tropeçamos num corpo,
amamos nesse corpo
o sonho utópico da infância, 
o que o nosso coração
espera da própria vida.
ao despertarmos do idílio 
aprenderemos, amargamente, que é só 
o inalcançável que, na verdade, importa.
***
se afirmo a minha humanidade 
que o mesmo será dizer água,
pois o dedo que levanto com estas palavras 
não é mais do que isso
e os pés em que me apoio
a boca que pronuncia sentido 
e exclamações: como é belo o mundo!,
não são mais do que água;
mas se afirmo a minha humanidade, repito,
aprumo o tronco, finco os pés à terra, cerro os punhos com coragem na perplexidade de ser um homem.

Rui TInoco

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