6 de agosto de 2010

*
quando termino um verso
fico imediatamente sentado
na cadeira do leitor... por favor,
arranjem-me um lugar...
obrigado. ponho-me à-vontade.
sigo com interesse
várias histórias na grande
televisão da vida. regresso
aqui à procura de palavras
desconformes. fosse possível
corrigir assim as existências.

*
diseuse? é para ti que falo.
imagino-te como uma voz
feminina, macia e doce,
impregnada do mistério das
mães. à medida que lês,
estas palavras adquirem
existência e depois voltam-se
a calar. fico envergonhado:
sei que não consigo estar
à tua altura. há também
a tua boca, diseuse: pinto-a
como uma ave a pôr asas
em tudo o que toca.
é neste momento que deves dar
a entender que caí nestas folhas
à procura de não sei quê
e que depois me debato,
neste lado, para estar ao pé
de ti, como um dos melhores
amigos da alegria. quando
estiveres a ler o texto seguinte
ficarei sentado, numa das mesas
defronte, a ouvir-te,
entretendo nas mãos uma
pequena chávena de café.
é preciso dar lugar à vida.

*
peço que as desculpas
me perdoem. mastigo o meu
pão. mastigo o meu pão
para somar gestos. sabes bem
que os gestos me servem
de escudo, que a pose
se tornou uma amiga
fiel. não é com ela
que queres falar?compreendo.
sabes bem que desde que partiste
recomecei a contar tudo
desde o zero, coleccionei
monólogos como o mais
excêntrico magnata. sabes bem
que tenho ficado até de madrugada
preso ao não sei quê das
palavras... beijaste-me
e é claro que podes entrar,
mas fica sabendo: os meus defeitos
estão a ver televisão no sofá do escritório.
sentamo-nos a seu lado?

Rui Tinoco, Big Ode Sublime #7

Nenhum comentário:

Postar um comentário