hoje recordei-me de uma mala preta dos 101 dálmatas que eu usava tinha eu 10 anos.
eu adorava aquela mala. levava-a para a escola, da escola para os jantares dos amigos dos meus pais, para o parque infantil, para todo o lado.
eu era rebelde, fartava de cair, de fazer maldades sem nexo. eu era má.
mas tinha aquela mala. há quem tenha peluches, amofadas... eu tinha aquela mala.
foi dada pela minha irmã. aquela, sim. aquela que mais me amava. para além dos meus pais é claro. agora eu sei.
eu.. sim. era uma criança sozinha. era simpática. mas fria e sozinha. fria porque não queria fazer amigos. eu tinha a minha mala. má porque não precisava deles, eu tinha aquela mala.
passou um tempo. só que os obstáculos foram aumentando e a mala... começou a ser pouco para me sentir segura, vestida.
senti necessidade de fazer um amigo para poder respirar um pouco o ar que todas as outras crianças respiravam. o ar da infantilidade. o ar de ser menina. de ser emocional e comunicativa.
hoje. é dificil falar. como se vê, é muito mais fácil escrever sobre o assunto. hoje. senti que continuava a ser aquela menina fria. eu não esqueci a infância porque me pareceu não ter passado por ela tanto quanto desejava. é injusto. e eu não tenho culpa.
certos planos da minha vida foram desfeitos pelos erros dos outros. não sou fria. estou é sem calor dentro de mim. a vida foi-se. não porque eu quis... mas sim porque ELA quis. foi ela. não eu. ela.
a porta já estava aberta quando entrei. e foi então que vi tinha passado por lá um tornado. estava tudo destruido. nunca vejo o lado bonito da coisa. nunca soube ver. talvez o queira. isto não pode ser tudo mau. já é o suficiente.
eu só gostava. de ver, de conhecer, de tocar, de sentir alguém da mesma maneira. e possibilitado a dar-me aquilo que só a minha mala conseguiu dar. esperança.
No fundo era só uma mala. Apenas um pedaço de material que adoravas. ponto. Sentias-te confortável, acompanhada e segura ao lado dela, mas isso eras tu, os teus sentimentos. Não a mala com os 101 dalmatas. Apenas tu. Eras apenas outra quando estavas com a mala.
ResponderExcluirHoje não tens a mala, nem os mesmos sentimentos, mas também já não és a mesma. Já não és a criaça. Cresceste e ganhaste malas novas. Diferentes. E rodeiam-te todos os dias, estão contigo todos os dias, vivem contigo tal como a anterior, tal como A prenda da tua irmã. Basta parares para respirar, olhar um bocado e descobrir, ou melhor, perceber a quantidade de malas que criaste!